quarta-feira, 10 de junho de 2009

Receita para o Frio: Pão e garrafas pra ficar no Ponto.

Gosto de ver as coisas em perspectivas e hoje já me sinto, apesar do frio e chuva, confortável para analisar o movimento realizado pelo Grupo Pão de Acúcar (doravante GPA) que na última segunda-feira dia oito adquiriu o controle acionário do Ponto Frio (doravante PF) e com isso criou o maior grupo de varejo do país.

Passado o alvoroço sobre o desfecho de um processo que durou meses (ou anos depois da última tentativa de venda por parte da antiga controladora), todas as informações da imprensa e mercado mais os palpites que ouvi conduzem-me a dois principais eixos de análise:

Mercado e Concorrência

É fato muito relevante que o único grande jogador do varejo de bens duráveis nacional com ações negociadas em bolsa ter sido adquirido por um grupo que tem a mesma estrtutura de mercado. Lembro que a líder no segmento Casas Bahia tem - ainda - uma postura mais fechada. Sintomático também que os demais finalistas na corrida pela compra estarem apoiados por agentes de mercado (Magazine Luiza com fundos de Private Equity e a Insinuante com o BTG Pactual). Mostra uma tendência (ou necessidade?) de evolução corporativa do setor . 

Em termos de concorrência, a dinâmica de forças no segmento não muda muito pois o GPA que era incipiente nesse segmento compra a relevância do vice-líder e entra nesta seara do varejo muito mais dinâmica e de risco. A consolidação no setor seguirá em ritmo mais orgânico com um foco de aquisição nas redes menores e regionais (vide: Baú-Dudony/PR e Bahia-Romelsa/BA). Salvo novidades mirabolantes além de minha humilde visão.

Agora, este cenário põe uma pá-de-cal na expectativa de entrada forte dos extrangeiros no varejo de magazine brasileiro (suscitado pela chegada mexicanos da Elektra no Recife e Coppel no Paraná). A banda está passando na frente deles em período que estão desprotegidos em seus mercados de origem pela crise mais forte além-mar e mais, estão percebendo que o jogo aqui é duro e que táticas que funcionam em outros mercados aqui não são tão 'plug-and-play'.

Desafios do Grupo Pão de Acúcar com o Ponto Frio

Até o momento as informações dão conta que a marca e a operação do Ponto Frio serão mantidas no segmento de eletroeletrônicos. O GPA descobrirá um mundo novo já que vê o segmento de bens de consumo duráveis pular de 10% para 26% de seu faturamento e tem o desafio de reverter a tendência que vinha negativa da operação do PF. Neste cenario, eles declararam para o mercado que esperam ter os primeiros resultados em até 12 meses. Olho na cronologia!

Acredito que este período será de profunda revolução operacional e diretiva dentro do PF e também no GPA. Representará um teste para ver se o último pega realmente gosto pelo segmento de bens duráveis. Ao final, se os acionistas do GPA virem que a aposta virou um Pão-Frio (e duro!) e as margens maiores e ganhos financeiros não são tão mamão-com-açúcar com taxas de juros cada vez mais baixas, podem voltar para a vida doce do varejo de não duráveis de tíquete baixo. 

Esta para mim é a grande interrogação. O GPA tem quadros acostumados ou experientes na gestão do varejo de tíquete acima dos 100 reias? É realmente o foco do negócio do GPA? 

Na minha opinião vão precisar de gente que entenda do riscado. E quado escrevo 'riscado' a palavra risco vem à cabeça. Até que ponto os acionistas do GPA vão se acostumar com o risco de um mercado que hora sobe, hora desce, muito influênciado por decisões políticas e econômicas no qual a briga é muito mais forte para vender? Os tempos do negócio com crescimento orgânico (até porque é basicamente alimentos, orgânicos ou não) acabaram para a família Diniz e seus sócios. Pelo menos por hora.

Na entrevista coletiva de anúncio da compra Abílio Diniz, Presidente do Conselho de Administração do GPA, além da protocolar declaração que a estratégia é entrar neste mercado de eletroeletrônicos e móveis, ele deu a deixa de que o jogo está aberto ainda e muito pode mudar quando disse que o maior atrativo na aquisição eram os pontos e, tenho certeza que ele não falava da marca.

Vamos ver se o Pão de Acúcar tem garrafa vazia para vender. Mas se eles não tiverem quem mais terá? Com o que vendem de bebida... eu vou dar minha contribuição e comprar duas garrafas de vinho para passar o feriado frio, no ponto!


# Atualização 14/06 21:43 # Entrevista do Pres. do Conselho do Pão de Açúcar, Sr. Abílio Diniz, no Estadão de hoje  traz traz mais luz sobre o porvir do Ponto Frio.

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